28 de fevereiro
FGB participa de coletiva de imprensa com nova cúpula da segurança pública
Responsáveis pela pasta no Estado do Rio de Janeiro não esclarecem que estratégias serão usadas
na Baixada e os impactos sociais que a intervenção federal militar pode acarretar nas periferias.
Fotos: Agência O Globo e Revista Fórum
O Fórum Grita Baixada participou da coletiva de imprensa realizada na manhã de ontem (27/02) no auditório do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), centro do Rio. O encontro foi considerado aquém das expectativas sob diversos aspectos que incluem desde o pouco tempo de inscrições feitas pelos jornalistas até a quantidade de perguntas selecionadas, que ficou restrita a alguns representantes dos grandes meios de comunicação. Muitos profissionais da imprensa foram pegos de surpresa, por exemplo, quando a porta-voz da Assessoria de Comunicação do CICC alertou que faltavam apenas 3 minutos para o envio das perguntas a mesa, que, ainda assim, foram previamente selecionadas.
Outro ponto desfavorável à apresentação foram as declarações do interventor federal, general Walter Souza Braga Neto, que forneceu um aspecto mais organizacional e administrativo, em função da reestruturação dos órgãos de segurança que estarão sob seu gerenciamento, do que esclarecer quais estratégias de campo seriam desenvolvidas. “Nossos objetivos são reduzir a criminalidade e dar suporte à capacidade operativa aos órgãos de segurança”, disse Braga Neto, que também declarou que a folha de pagamento da Polícia Militar “estaria em dia”.
Já o general Mauro Sinott, chefe de Gabinete da Intervenção Federal, disse que o momento atual é uma “janela de oportunidades”, e espera que a segurança do Rio aproveite a experiência das Forças Armadas, ao salientar que a logística das corporações são um grande desafio em função do grau de sucateamento das bases operacionais (Unidades de Polícia Pacificadora) e das viaturas dos batalhões.
Direitos Humanos em tempos de intervenção
Perguntas sobre investigações acerca de possíveis violações de Direitos Humanos, bem como denúncias de outras modalidades de abuso de poder por parte dos militares em comunidades periféricas, foram descartadas na coletiva de imprensa. Elas foram respondidas de improviso no saguão do CICC, através do porta-voz do Comando Militar do Leste, coronel Carlos Alberto Sinelli. “Desde o ano passado não houve manifestação de violação de Direitos Humanos numa escala que pudesse representar algo que estivesse acontecendo sistematicamente”, afirmou Sinelli, em depoimento publicado no Jornal do Brasil.
Entretanto, ao responder a pergunta de uma repórter sobre como o problema da corrupção nas forças de segurança será contigenciado, o general Braga Neto limitou-se a dizer que irá “fortalecer o trabalho das corregedorias e tomar providências para a valorização dos policiais.”. Uma outra repórter perguntou se o Instituto de Segurança Pública (ISP) teria a mesma autonomia para a composição do que a mesma chamou de “auditoria dos índices de letalidade (assassinatos)”. A resposta foi positiva.
Em linhas gerais, a coletiva de imprensa foi marcada pela rigidez protocolar típica dos militares. Tudo milimetricamente coordenado e fornecendo quase nenhuma oportunidade para o aprofundamento de discussões mais polêmicas ou que resultassem em algum tipo de constrangimento aos anfitriões. Das 7 perguntas feitas pelos jornalistas, em um espaço de tempo que pouco ultrapassou a marca dos 20 minutos a única pergunta feita sobre o papel das favelas, no âmbito da intervenção federal militar, foi sobre a período de ocupação que elas sofreriam pelos soldados, prontamente respondida pelo general Sinotti, que afirmou “que a ocupação das comunidades não será permanente como das outras vezes”.
Para a Baixada Fluminense, a vigência da Garantia de Lei e Ordem estendida, segundo o que almejam os militares, se configura, por enquanto, a alguns pontos de bloqueio, controle e fiscalização de determinadas vias urbanas aos principais acessos rodoviários ao Rio, dentro de horários pré-fixados. Embora os efeitos relacionados a queda dos índices de violência, baseados no uso dessa tática, ainda não tenham sido contabilizados. especialmente na região metropolitana e resolver um problema que possui raízes históricas e estrutura
Ao contrário do que prometia o controverso programa de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP´s) e considerando todas as implicações a respeito do tema, a nova cúpula da segurança pública do Estado do Rio ainda não produziu nenhuma declaração de como serão as contrapartidas sociais que chegarão a reboque da intervenção. Resta saber se a tal credibilidade das forças de segurança vai ser uma mera repetição de processos de “sufocamento” da criminalidade em territórios marcados pela pobreza ou se a Saúde e a Educação terão vez nesse complexo jogo de xadrez político.
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