Instagram (10).png

24 de fevereiro de 2022 

Entrevista do mês: Jefferson Machado, historiador e militar da reserva

“Temos forças armadas conservadoras e generais apenas preocupados com suas carreiras”.

FGB conversa com o professor de História e suboficial da reserva da aeronáutica sobre o militarismo bolsonarista, eleições na Baixada e ataques feitos ao Papa Francisco por integrantes das Forças Armadas.

 

Pesquisador do Núcleo de Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Educação Militar, Jefferson Machado possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004), mestrado (2007) e doutorado (2016) em História Comparada. Todos pela mesma instituição. Nascido em Nilópolis, seus objetos de pesquisa envolvem Santo Antônio, franciscanos, igreja medieval, sermões medievais, dentre outros assuntos. Também é irmão da Ordem Franciscana Secular

 

É suboficial da Força Aérea Brasileira e já foi professor no ensino superior das disciplinas: História da África, Prática do Ensino de História, História Antiga, Métodos e Técnicas de Pesquisa em História, além de trabalhar no Museu Aeroespacial, cuja instituição é subordinada à Aeronáutica.

 

Junto com o pastor Ras André Guimarães, da Igreja Metodista Filadélfia, apresenta periodicamente, nas mídias sociais, o programa “Diálogos da Esperança” em que debate o cristianismo franciscano a partir de temáticas sobre racismo, diálogo ecumênico e interreligioso, defesa das minorias e preconceitos de todas as formas.

 

Ao entrar para a reserva, tal mudança na vida cotidiana talvez tenha lhe permitido ser um crítico menos indulgente com a carreira militar, ao ponto de questionar mais abertamente o militarismo bolsonarista e o próprio governo federal em si. Na sua opinião, o Estado Brasileiro, durante o período de governos progressistas, não se preocupou com a reestruturação da carreira e da formação dos militares, o que culminou, segundo sua opinião, em uma “cegueira intelectual” que possibilitou o surgimento dos grupos anti-vacina.   

 

Entrevista a Fabio Leon.

 

O senhor possui relações profissionais e acadêmicas com o ambiente militar e, ao mesmo tempo, com a religiosidade cristã, especificamente a relacionada com São Francisco que tem, dentre suas principais virtudes, a benevolência. Como o senhor avalia certos radicalismos e ataques, como os direcionados ao Papa Francisco, inclusive de representantes das Forças Armadas, em função de seu discurso progressista e pró Direitos Humanos?

 

Sou oriundo de Nilópolis, minha paróquia de origem é assistida pelos Frades Menores. Por isso, após a catequese, participei de um grupo de adolescentes que era chamado de Mini-Jufra. Nele tínhamos o primeiro contato como o carisma francisclariano. Depois ingressei na fraternidade local da Juventude Franciscana (JUFRA), que hoje é chamada de Ternura e Vigor, nome muito sugestivo, pois tem como base uma obra literária de Leonardo Boff, que retrata um São Francisco diferente daquele que foi engessado nos altares.

 

Essa fraternidade foi um grande vetor de lideranças políticas e realizava grandes trabalhos sociais e políticos na cidade e na Baixada. Nela aprendi e conheci o Cristianismo da Libertação. A ideia de que a Igreja devia olhar preferencialmente os pobres. Então essa foi minha formação cristã inicial. Porém, devido à falta de perspectivas profissionais nos anos 1980, fui levado a realizar um concurso para a Escola de Especialistas da Aeronáutica e me formei Sargento em 1991. Porém, em meu coração ainda estava a semente do franciscanismo.

 

Além disso, meu pai foi um dos militares expulsos no Golpe de 1964 e minha casa era um centro de realização de reuniões pela anistia e foi o local de onde surgiu a ideia de uma Associação de Moradores do Bairro onde morava. Outro fator que me distanciou ainda mais da formação militar, mesmo continuando na caserna, foi a minha entrada no curso de História da UFRJ, no qual tive acesso a novas reflexões e a uma visão de mundo diferenciada em relação as questões políticas, e sociais brasileiras.

 

Dito isso, os radicalismos aos quais você me questiona estão em várias instituições, pois sob o rótulo de defesa da democracia e liberdade de expressão, deixou-se que algumas pessoas começassem a extrapolar suas falas e posicionamentos, mesmo que esse fosse contrário a aspectos democráticos e humanitários.

 

Infelizmente o Estado Brasileiro durante o período de governos progressistas não se preocupou com a reestruturação da carreira e da formação dos militares. Isso é fundamental, uma vez que na educação dos militares não há nenhuma matéria que trate de Direitos Humanos ou conhecimentos filosóficos e sociológicos ou sobre a História do Brasil. Como resultado, temos forças armadas conservadoras e sem espírito público. O generalato preocupa-se de forma geral com suas carreiras e os ganhos que vão ter em suas funções. Todo esse nacionalismo pregado e propagado não passa de mera quimera, pois no fundo não é isso que vemos no cotidiano da carreira.

 

Em suas cabeças a Igreja deve ser conservadora. Trata-se de mais um local para manter seus status e deve replicar o que é a sociedade brasileira. Ou seja, deve manter as diferenças entre as classes, as raças e os gêneros. É isso que torna o Papa Francisco um inimigo. Ele vê a sociedade de maneira horizontal como nos ensina Jesus. Trata-se de uma lógica em que todos devem ser respeitados e cuidados, inclusive o planeta, a nossa Casa Comum.

 

Muitos querem manter uma sociedade hierárquica e os militares pensam o mundo dessa forma. Por isso, muitos membros da Igreja também atacam o Pontífice. A ideia de perder privilégios e ter tratamento igual não passa pela cabeça desses que se acham eleitos. Vemos em várias denominações cristãs, inclusive na Igreja Católica a ascensão de lideranças ligadas ao militarismo. Isso não seria um problema se esses olhassem o Evangelho com um olhar diferenciado daquilo que aprendem nos quartéis. O problema é que querem implementar a lógica da qual estão impregnados nas comunidades cristãs as quais estão ligados.

 

Uma vez que uma das coisas muito boas da formação militar é a forma como nós aprendemos a nos virar e temos disciplina para realizar nossas funções, esses homens e mulheres se destacam por suas capacidades de trabalho e acabam assumindo lideranças. Aí está o perigo, pois esses têm uma visão de Igreja individualista e conservadora. E é isso que vemos em muitos lugares. Sendo assim, acabam rivalizando com as ideias do Papa e fomentando o embate nessas comunidades.

 

Estamos em mais um ano de eleições e o senhor defendeu, certa vez, a não obrigatoriedade do voto. Porém, referiu-se a tal prática enquanto perigosa em lugares tais como a Baixada Fluminense, pois poderia interferir no processo democrático, já que há um grande interesse pela população em votar, segundo a sua declaração. Depois de 37 anos de redemocratização, nós adquirimos maturidade para votar?

 

Eu acho que o voto facultativo é algo muito interessante. Mas no Brasil, do qual tratamos, não tenho certeza de que seria uma grande ideia. Isso se dá pela falta de conhecimento, que boa parte da população brasileira, inclusive dos mais abastados, do que representa um processo eleitoral e do que é uma democracia também. Sendo assim, a eleição vira um grande balcão de negócios. Na verdade, o que vemos nas ruas da Baixada são pessoas que vendem seus votos ou trocam por favores.

 

Mas, isso não é uma questão de querer levar vantagem, mas de necessidade. Tratamos aqui de uma região carente e desestruturada, além disso, a violência, as milícias e o crime organizado também desempenham um grande papel nas eleições. Moradores de determinadas localidades são forçados a votarem nos candidatos de seus opressores. Nesse caso vemos que a eleição facultativa seria uma faca de dois gumes. Pois, se por um lado cremos que somente aqueles que tem interação com a política votariam, por outro lado nessas comunidades oprimidas aconteceria o voto de cabresto. Aquele voto em que os opressores obrigam a população a votar nos seus.

 

Outra característica importante da Baixada é o grande número de Evangélicos Neopentecostais. De um modo geral, esses também exercem o chamado voto de cabresto. Isso vemos na quantidade de pastores, pastoras, missionários e missionárias que são eleitos nas câmaras de vereadores da região. Isso mostra que há uma falta de entendimento do que deve ser relevado em conta na hora em que cada um dos eleitores e eleitoras exercem seu direito a voto.

 

É possível que, nessas eleições, a Baixada tenha uma tendência de abandonar um pouco o aspecto conservador de seus representantes político-partidários, considerando que a popularidade do presidente da República está em baixa?

 

Vejo que os eleitores da Baixada, de um modo geral, não têm essa consciência de que um candidato ou candidata são conservadores. Como falado acima são muitas forças e condições que definem a forma como eles vão votar. Como trata-se de uma sociedade que, apesar do esforço de muitos irmãos e irmãs de luta, não possui uma tradição de organizar-se pelos seus direitos, o voto leva em consideração mais as condições de vida e demais influências do que uma reflexão sobre a importância de votar em forças progressistas ou conservadoras. Muitos não sabem, por exemplo, que ser conservador é manter as coisas como estão. Ou seja, conservar cada um em sua posição.

 

Creio que em relação ao voto majoritário, ou seja, a escolha do Presidente da República, o que ocorrerá é uma comparação entre o período dos governos progressistas e o período da extrema-direita, que mais que conservadora é atrasada, afim de que definam seus votos. Mas, dependendo das alianças que forem feitas na região os fatores anteriormente colocados podem pesar. Temos que lembrar que a fome e a falta de emprego, entre outros, estão ligados ao agora e as pessoas precisam resolver. Sendo assim, um oferecimento de emprego ou cesta básica pode resolver um voto, infelizmente.

 

Que tipo de democracia o país tem atualmente na sua opinião?

 

Assim como a Democracia Ateniense, nossa democracia não é plena. Em Atenas os cidadãos podiam falar, mas os direitos não alcançavam a todos. No Brasil, a população vota e pode participar do processo eleitoral, mas em algumas regiões, inclusive na Baixada, falar e expor suas ideias e demandas é um problema que pode levar inclusive a morte.

 

Em esfera federal vemos hoje um Estado militar e cooptado pelas forças de extrema-direita. S mais de 10 mil militares em cargos nas mais diversas áreas do Governo. Muitos generais influenciam várias decisões e estão mais presentes no Estado que na época em que eram os ditadores. Setores que antes eram geridos por técnicos de carreira, ou pessoas com saber acadêmico sobre suas dinâmicas, hoje estão nas mãos de homens e mulheres que são oriundos das Forças Armadas e que não possuem nenhum conhecimento sobre os cargos.

 

A Polícia Federal e Polícia Rodoviária, que são forças de segurança de Estado, estão a serviço do Presidente e seus filhos que direcionam o que deve ser ou não feito pelas instituições. Além disso, a Procuradoria Geral da República está ocupada por um senhor que não fiscaliza ou questiona nenhum ato do Executivo, sempre atravancando as possíveis ações que podem o levar a uma condenação ou colocar um freio nas diversas atitudes que prejudicam a população. Em alguns estados da federação, pessoas são assassinadas por exigirem terra, pão e dignidade. O assassinato de lideranças indígenas, quilombolas e agricultores sem-terra, entre outros é um sinal de que nossa democracia não é plena. Ainda mais quando a justiça não condena aqueles que fazem da violência uma arma política.

 

Dessa forma, vemos uma democracia capenga. Uma República que não abraça seus cidadãos, ou seja, que não proporciona os mesmos direitos para todos e protege os mais frágeis. Como podemos falar em democracia quando a cada três minutos um cidadão negro ou uma cidadã negra são executados no país, sendo muito deles mortos pelo próprio Estado? Diante disso, creio que ainda temos um caminho muito longo para transformar o Brasil em uma democracia plena. Isso só irá acontecer quando nossas instituições se voltarem para os direitos e necessidades de toda a população.

 

Qual sua opinião sobre a pauta de costumes que o governo federal constrói em sua agenda? Por que há uma maior preocupação em se relativizar comportamentos individuais da população ao invés de se efetivar políticas públicas mais consistentes? 

 

A questão dos costumes e pautas moralizantes são características dos regimes fascistas, de exceção e ditatoriais. Isso é ainda mais forte, quando os governantes estão ligados a instituições religiosas ditas conservadoras. Quanto a essa questão, não podemos esquecer que boa parte do eleitorado desse grupo, que está no poder, está ligado a religiosos e fiéis de extrema-direita.

 

Sendo assim, a ocupação de alguns ministérios por pessoas ligados ao cristianismo conservador faz com que esses temas se tornem prioritários. Principalmente visando a agradar àqueles que apoiaram e apoiam tais iniciativas.  Assim como nas igrejas, os pastores e fiéis rechaçam a discussão sobre teoria de gênero e sobre racismo, por exemplo. No Ministério da Educação, ocupado por um pastor, esse debate torna-se proibido ou inexistente. Inclusive, com declarações no mínimo pífias, realizadas por tal gestor.

 

Porém, em outros campos do Ministério, o que se procura é encaminhar uma visão neoliberal em relação a educação, buscando acabar com o ensino público, a fim de que a iniciativa privada seja beneficiada. Vemos o desmonte do ENEM, enquanto o ministro fala sobre a influência comunista na educação. A democratização do ensino superior está sendo enterrada por eles, a fim de que somente os mais abastados consigam ter acesso ao ensino superior.

 

Vejo como verdadeiras cortinas de fumaça a “ideia de que as meninas devem vestir rosa e os meninos azul”, propagada pela ministra que deveria incentivar a diversidade. Não podemos esquecer que enquanto discutíamos isso, vários serviços e iniciativas que possibilitavam aqueles que sofrem discriminação ou atos de violência foram sendo desmontados. Afinal, para eles não há necessidade de tratar ninguém de forma diferenciada.

 

Por fim, devemos entender que o governo vem sendo ocupado por pessoas que não conseguem entender a mensagem de amor de Jesus. Que veem os pretos e pobres como cidadãos de segunda categoria. Que possuem uma lista imensa daqueles que podem ser eliminados uma vez que não cumprem os requisitos mínimos do modelo cristão que eles querem impor. Ou seja, não é necessário implementar políticas públicas, a fim de amenizar a situação desses grupos.

 

O senhor ministrou em 2018 um minicurso chamado “O trabalho na Idade Média: uma discussão sobre o discurso legal e religioso”, onde foram analisadas as estruturas produtivas que permeavam a construção discursiva e jurídica daquela época. O que aquele período histórico tem a nos ensinar ou repudiar em termos de relações trabalhistas atuais?

 

Algumas coisas ainda estão muito presentes. A desvalorização do trabalhador braçal, ou seja, do operário, do lavrador e de outros. A proeminência dos banqueiros que surgem nesse período e começam a dominar a economia e tornam a classe burguesa como a mais importante da sociedade.

 

Agora um ensinamento deixado pelos trabalhadores que depois se tornam grandes comerciantes, são as corporações de ofício. Entidades, que assim como os sindicatos, uniam trabalhadores de determinado ofício, a fim de que organizassem suas atividades e pressionassem os administradores das cidades com o objetivo de tornar suas atividades lucrativas. Isso é um ensinamento as categorias profissionais atuais.

 

A organização em sindicatos, não pode ser desprezada. A luta para que essas instituições realmente representem seus interesses também não deve ser abandonada. Somente organizados, os trabalhadores podem lutar por seus direitos. Por isso, a burguesia industrial e mercantil sabe que deve minar qualquer forma de organização daqueles que eles querem explorar.

 

Historiadores e educadores foram bastante hostilizados nesse governo, em função de um suposto “viés ideológico” nas escolas e universidades públicas que se transformou em perseguição política. Qual a sua análise em relação a esse fato?

 

Em todos os regimes fascistas e ditatoriais, os pensadores são perseguidos. Não importa se em uma ditadura de direita ou esquerda. Quem analisa a sociedade com lisura e baseado em critérios científicos é visto como inimigo, pois consegue entender a partir dos discursos e das atitudes dos governantes qual caminho vai trilhar, além de utilizar a história para ajudar ao entendimento do que está acontecendo. Certamente qualquer governante que se propõe a ser ditador irá desvalorizar o discurso científico, quer seja das ciências humanas ou biológicas.

 

Para que as análises desses profissionais sejam desvalorizadas, deve-se criar uma narrativa contestatória, que para muitos é racional, pois quem as encampa também não possui conhecimento suficiente para saber o que realmente está em jogo. Sendo assim, são levados, pelo mimetismo que a autoridade messiânica que propõe tal desvalorização, a rechaçar qualquer ideia científica que seja contrária.

 

Foi isso que vimos no debate sobre a ditadura dívico-militar brasileira. Que mesmo diante de tantos documentos e dados históricos, que confirmam como foi a história desse período, a partir da memória de pessoas que viveram esse momento histórico e que, por isso, podem ter suas preferências, passam por cima dos trabalhos produzidos pela academia que explicam de maneira científica tal fenômeno.

 

Queria aqui afirmar a diferença entre a História e a Memória. Inicialmente precisamos entender que a Memória não é História. Porém, ela pode ser um dos elementos formadores da narrativa histórica. A memória é falha e seletiva. Ela depende da posição que cada um ocupa durante a construção de tal fato histórico. Já a História é a construção narrativa feita pelo historiador, ou seja, trata-se do trabalho de análise feita, a partir da documentação, que pode ter a memória como constitutiva. Para que a Memória possa ser utilizada ela deve ser analisada através de métodos e teorias especificas, a fim de que não atrapalhe a análise do historiador.

 

Apesar de ser um pouco técnica, creio que essa explicação é importante para acabar com a crença de que o relato da “testemunha ocular da história” é a própria história. Isso é inverossímil. Ele é apenas um dos fatores a serem analisados, pois pode ter apenas a sua posição política e não uma narrativa desinteressada.

 

Sendo assim, essa Memória foi usada para tratar os profissionais da História como doutrinadores, pois não se alinhavam as narrativas dos militares e personagens que afirmam que não houve uma Ditadura e que os militantes de esquerda só foram torturados e assassinados por terem atacado e matado militares.

 

Além disso, vários outros debates sobre Nazismo e Comunismo, entre outros, foram criminalizados e colocados como algo nocivo ao país e como uma narrativa de esquerda. Tratando todos os intelectuais de comunistas e “esquerdopatas”.

 

Embora as Forças Armadas sejam subordinadas ao presidente Jair Bolsonaro, o senhor concorda que poderia haver mais razoabilidade entre os militares, no sentido de serem mais contidos no que se refere ao negacionismo e à propagação de notícias falsas sobre a pandemia de covid19 e a tratamentos não comprovados cientificamente no combate ao coronavírus?

 

Isso tudo que ocorreu realmente me surpreendeu. Como militar, nós sempre fomos obrigados a nos vacinar para várias situações. Aqueles que vão para Região Norte, por exemplo, tem um controle muito grande sobre sua vacinação. De repente, as instituições resolveram abraçar o negacionismo em nome de um projeto político.

 

Se voltarmos a história do Exército, por exemplo, podemos ver que, entre o final do século XIX e início do XX, parte de seus oficiais eram cientificistas. Valorizavam a racionalidade e a ciência. Em muitas iniciativas científicas brasileiras, as Forças Armadas estiveram presentes. Mas, em nome de um domínio político e de uma luta ideológica, se colocaram agora ao lado daqueles que refutam o conhecimento acadêmico. Querem analisar todos os fatos e acontecimentos, a partir do senso comum.

 

Como temos hoje uma grande rede de comunicações, onde se tem liberdade para anunciar ou propagar qualquer notícia rapidamente, conseguiram ter ao seu lado uma grande parcela da população. Principalmente por ter sido o Exército visto, durante muito tempo, como uma instituição confiável.

 

O problema é que muitos militares realmente acreditam, a partir do ideário espalhado por seus comandantes, que a vacina faz mal. Nunca imaginei tamanha cegueira intelectual, inclusive em pessoas que imaginei terem um pouco de racionalidade. Mas, isso tem a ver com a formação desses militares. Muitos não têm visão de conjunto, ou seja, não conseguem enxergar além dos muros da caserna. Inclusive entre os comandantes.