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Cartografia Social e Dinâmicas Territoriais: Marcos para o Debate

A partir dos anos 1990, multiplicam-se as experiências de inclusão de populações locais em práticas de mapeamento. A ampliação dos espaços e a diversificação das formas da representação espacial, além da emergência de novas tecnologias e de novos “sujeitos mapeadores”, deram lugar à constituição de um campo da representação cartográfica onde se estabelecem relações entre linguagens representacionais e práticas territoriais, entre a legitimidade dos sujeitos da representação cartográfica e seus efeitos de poder sobre o território.

 

Configuram-se políticas cartográficas em que os mapeamentos são objeto da ação política, em um contexto de instabilização das formas socioterritoriais afetadas pela liberalização das economias. Constituem-se também no mundo, a partir de então, diversas redes, grupos e “comunidades” envolvidas com o uso de SIG e de mapeamentos que se afirmam participativos, constituindo uma espécie de “sub-campo” da “cartografia participativa” no campo mais amplo das práticas da representação cartográfica.

 

Neste sub-campo constroem-se fronteiras simbólicas, técnicas e morais com relação a outras práticas organizadas, configurando perícia legitimada, redes inter-pessoais e organizacionais, distribuição de recursos e regras internas de jogo, onde certos empreendedores institucionais empenham-se em problematizar a cartografia convencional promovendo as tecnologias do mapeamento dito participativo, alegando sua autoridade/perícia legí- tima para fazer valer as reivindicações sobre territórios e seus recursos por parte de populações locais.

 

A noção de mapeamento participativo surge, porém, com a marca de uma ambigüidade: construída para dar a palavra às comunidades de base e grupos desfavorecidos – integrando, inclusive, segundo alguns, um projeto territorializado de contra-cultura política – sua realização mostra-se dependente da estrutura de poder na qual ele se instaura.

 

No vasto espectro de experiências conhecidas no mundo, podemos verificar que elas podem estar associadas à afirma- ção identitária e territorial de grupos subalternos, assim como à fundamentação cognitiva da gestão racional de recursos naturais, a mecanismos de explicitação de conflitos sócio-territoriais e ambientais ou a formas de antecipação dos mesmos para fins de controle estatal do território.

 

(Trecho do Livro Cartografia Social e Dinâmicas Territoriais: Marcos para o Debate:  Henri  Acselrad (ORG) Professor do IPPUR/UFRJ e pesquisador do CNPq.

Cartografia Insurgente – Quem constrói nossos mapas somos nós!

Michel Foucault, nas obras: A ordem do discurso, Palavras e Coisas e Microfísica do poder, expõe a relação entre o saber e o poder nas relações sociais, bem como teoriza acerca das amarras sociais desenvolvidas nessa interação. E por que escolhi
abrir essa contextualização inicial como uma interface com a construção desse artigo sobre Cartografia? Para dizer – lhes que essa relação recíproca entre saber e poder, mediada pela linguagem, participam ativamente da constituição das relações sociais, políticas e econômicas têm fundamentação graças à construção do discurso ideológico e sendo assim, é através da construção desse pressuposto teórico e ideológico que predomina na sociedade uma classe e raça dominante que vai conseguindo convencer e se manter no poder, por isso e como consequência dessa análise começo compartilhando que venho utilizando o conceito de Cartografia Insrugente 
em vez de Cartografia Social.

 

E o porquê disso? Argumento dizendo que, quando colocamos a palavra social podemos estar dando margem para uma
generalização, pois a palavra social, como também a palavra política, é parte de tudo que fazemos e vivenciamos, pois vivemos em sociedade, sendo assim, tudo é social, e tudo é político. E se uma Cartografia Social tem por um dos objetivos o enfrentamento a uma cartografia técnica acadêmica hegemônica ocidental branca cristã, a palavra e o conceito insurgente nomeia de forma objetiva esse enfrentamento e o lado que estamos nessa sociedade. Sei que muitos e muitas irão dizer e indagar do que importa isso, se é a prática, e não o nome e conceito em si, que fazem as coisas acontecerem. Responde dizendo que respeito essas opiniões, mas que no mundo contemporâneo na minha avaliação, a nossa disputa também é discursiva e conceitual.

Trecho do artigo Cartografia Insurgente: : Quem Quem constrói nossos mapas somos nós! de Fransérgio Goulart