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03 de maio de 2022

Institucional

Fórum Grita Baixada recebe a Medalha Tiradentes

Honraria concedida pelos mandatos dos deputados estaduais André Ceciliano e Waldeck Carneiro consagra FGB pelo conjunto de ações ao longo de seus 10 anos em prol dos Direitos Humanos.

 

Texto: Fabio Leon

Imagens: Tiago Fernandes e Fabio Leon

 

Tocha da Vergonha, relatório “O Brasil Dentro do Brasil Pede Socorro”, Seminário de Comunicação, Cultura e Ativismos da Baixada Fluminense e Outras Periferias (BFCOM), audiências públicas sobre homicídios, violência de Estado e desaparecimentos forçados na Baixada, a série de boletins “Racismo e Violência na Baixada Fluminense”, participação na criação do Primeiro Plano Municipal de Direitos Humanos da cidade de Nova Iguaçu, parceria para a criação do primeiro atendimento público especializado em violência de estado para mães e familiares. Desde 2012, Fórum Grita Baixada concretizou variadas ações, mobilizações, articulações e produtos para incidir politicamente sobre as questões que norteiam a defesa dos Direitos Humanos na Baixada Fluminense. O reconhecimento da ALERJ à essa trajetória veio na última sexta-feira, 29 de abril, em plena Semana da Baixada Fluminense, na forma da entrega da Medalha Tiradentes, a mais alta honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) para pessoas e instituições que contribuem para a causa pública no Estado. A premiação foi proposta através dos mandatos dos deputados estaduais André Ceciliano e Waldeck Carneiro.

 

Mais de 80 pessoas, entre cidadãs e cidadãos baixadenses, representantes de sindicatos, mandatos parlamentares, organizações, movimentos sociais e coletivos da Baixada e da região metropolitana do Rio, além de lideranças religiosas e comunitárias, lotaram o auditório do Centro de Formação de Líderes, em Moquetá, Nova Iguaçu. A composição da Mesa foi formada pelo deputado estadual Waldeck Carneiro, Sônia Martins, integrante da Comissão Pastoral da Terra da Diocese de Nova Iguaçu e integrante da Coordenação Ampliada do Fórum Grita Baixada, o diretor de cinema e produtor da Quiprocó Filmes, Fernando Sousa, a ativista Luciene Silva, integrante da Rede de Mães e Familiares de Vítimas de Violência de Estado da Baixada Fluminense e o coordenador executivo do Fórum Grita Baixada, Adriano de Araujo. O presidente da ALERJ, deputado André Ceciliano, ficou impossibilitado de comparecer à cerimônia de entrega, em função de outros compromissos em sua agenda, mas enviou um vídeo parabenizando o Fórum Grita Baixada por meio de sua assessoria.

 

O diretor de cinema Fernando Sousa, da Quiprocó Filmes, destacou a importância da parceria com o Fórum Grita Baixada, por ocasião da realização do filme “Nossos Mortos Têm Voz” e das ações decorrentes.

 

“Ao abordar a trajetória de luto e luta de mães e familiares de vítimas de violência de Estado, o documentário trouxe ao conhecimento público dentro e fora do país uma dinâmica de violência letal institucionalizada que até então era muito invisibilizada e o trabalho do FGB na Baixada Fluminense tem sido fundamental para um olhar diferenciado para a região”, disse o cineasta.

 

Outra fala de grande destaque foi da integrante da coordenação ampliada do FGB, Sonia Martins, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Entre as diversas contribuições, Sonia chamou a atenção para a emergência de uma nova pedagogia, de um novo modo de trabalho social e popular que responda aos novos desafios.

 

“É preciso trazer para a centralidade das organizações um novo modo de pensar o trabalho social coletivo e nesse sentido, o FGB vem buscando essa perspectiva sem deixar de olhar para as necessidades que são impostas pela realidade da Baixada Fluminense”, disse Sônia em seu momento de fala.

 

Muito emocionada, a ativista Luciene Silva relembrou o assassinato do filho Rafael, na Chacina da Baixada em 2005, que motivou a produção do documentário “Nossos Mortos Têm Voz”, da Quiproquó Filmes, e a recente morte brutal de seu segundo filho, Ronnie, em uma ação policial em Guadalupe, mês passado. Suas palavras de dor comoveram o público e também chamaram a atenção, uma vez mais, sobre a brutal violência cometida por agentes do Estado. Luciene destacou a falta de políticas públicas que, de fato, respondam ao grave problema da dependência química. A assistente social e militante pelos direitos humanos recebeu flores do Fórum Grita Baixada como forma de reconhecimento e homenagem pela luta ao longo dos 17 anos, desde a chacina da Baixada.

 

“Os gestores públicos precisam combater a violência letal de forma decidida, séria e comprometida. Segurança Pública não pode ser pauta de campanhas eleitorais, tem de ser um projeto de país e isso tem de ser pensado numa perspectiva de longo prazo. Segurança Pública não é algo que se faz de 4 em 4 anos. Os gestores precisam transformar essa política pública numa pauta prioritária, não somente por ocasião de mais uma chacina, e, sim para evitar que novas aconteçam”, disse o coordenador executivo do FGB, Adriano de Araujo, após a fala de Luciene.

 

O deputado estadual Waldeck Carneiro concentrou parte de seu momento de fala para fazer uma análise de conjuntura sobre os desafios nacionais e locais:

 

“A Baixada Fluminense é uma região marcada por uma série de desigualdades, discrepâncias e desequilíbrios de toda a sorte. O ano de 2022, embora seja um ano eleitoral, será marcado por uma série de debates de cunho civilizatório que acontecem desde antes de 2018. A sociedade fará uma escolha entre a civilização e a barbárie. Vamos enfrentar um monstro que se alimenta do neofascismo, do ódio, da violência e do racismo religioso, principalmente às religiões de matriz africana, além de profundo desapreço pela diversidade e democracia”, afirmou Carneiro.

 

A pedagoga e educadora popular Erika Glória afirmou que a entrega da Medalha Tiradentes é um momento histórico.

 

“A Baixada tem um processo que eu chamo de invisibilidade da invisibilidade. Então, para o Fórum Grita Baixada, celebrar 10 anos é ecoar uma voz que defende os pobres, os excluídos. A Medalha Tiradentes é um reconhecimento desse processo”.

 

“É uma grande honra estar aqui representando o Centro de Direitos Humanos. Nós do CDH participamos da formação do Fórum Grita Baixada com outras entidades da sociedade civil há 10 anos pra fortalecer e garantir a defesa dos Direitos Humanos aqui da região”, afirmou o advogado e novo coordenador do CDH, Pierre Gaudioso

 

Leitura da Carta da Baixada 2022

Durante a solenidade, a articuladora de territórios do Fórum Grita Baixada, Lorene Maia leu a Carta da Baixada 2022 (leia a íntegra aqui), uma atualização das ações de incidência política do FGB e também uma declaração de amor e respeito à Baixada Fluminense. Eis um trecho:

 

(...) Hoje o Fórum Grita Baixada conta e celebra a nossa história, a história do nosso povo, da nossa luta e também do nosso coletivo. Somos o “FGB”, o “Grita Baixada”, o “Grito da Baixada”, um coletivo de instituições e pessoas que unidas ecoam suas vozes pela e para a Baixada Fluminense. Unidos já fomos capazes de grandes realizações: realização de movimentos como “Tocha da Vergonha”, “Frente Intermunicipal de Valorização da Vida”, Caminhadas por memória justiça, publicação de um Relatório internacional “Um Brasil dentro de um Brasil pede socorro”, de 3 cartografias sociais, 8 boletins, 3 cartilhas e de diversos artigos publicados em livros, revistas e sites, participação na formulação de um Plano Municipal de Direitos Humanos, realização de um documentário “Nossos Mortos Têm Voz” e de grandes parcerias com universidades, tais como com a UFRRJ Seropédica (emenda parlamentar conjunta para realização de pesquisa sobre desaparecimentos forçados), com a UFRRJ/IM (NAMVIF – Núcleo de Atendimento Municipal a Vítimas de Violência de Estado e seus Familiares) e com a UERJ (projeto de memória com vítimas da violência na Baixada), participação em uma diversidade de conselhos, grupos, colaborações e articulações tais como: Conselho de Diversidade do IBCCRIM, COMDEDINE, Rio On Watch, Plataforma Brasil de Direitos, premiações como “Carolina Maria de Jesus”, dentre outros tantos que conquistamos, realizamos e ainda seremos, juntos, capazes de promover em prol de justiça social para a nossa gente. (...)

 

Em seguida, para receber a medalha, o coordenador executivo do Fórum Grita Baixada, Adriano de Araujo, chamou os integrantes da Coordenação Ampliada e da Executiva FGB: Lorene Maia, Fabio Leon, Percival Tavares (Pastoral Operária - PO), Wanda Vasconcelos (Conselho Regional de Psicologia- Sub Sede Baixada Fluminense), Henrique Silveira (Casa Fluminense), Maria de Fátima – (Central Humana de Educação, Ideias e Formação Humana Alternativa - CHEIFA), Sonia Martins (Comissão Pastoral da Terra - CPT), Pierre Gaudioso (Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu - CDHNI) e Padre Bernardo Colgan (Diocese de Duque de Caxias) que também não pôde comparecer. Também foram lembrados todas aquelas e todos aqueles que contribuíram para a caminhada do FGB: Irmã Yolanda Florentino, Dom Luciano Bergamin, Rosana Pereira, Suely Gava, Henrique Diniz, Padre Bruno Costanzo, prof. José Claudio Souza Alves, Douglas Almeida, e defensor público Antônio Carlos de Oliveira (in memoriam)

 

O momento de descontração ficou a cargo da intervenção musical promovida pelo grupo de rap 45S, crias da perifa de Duque de Caxias e indicados por Juliana Maia, uma das idealizadoras do projeto Família Lanatanpa, que mistura formação político-pedagógica com cultura hip hop, além de grandes parceiros do Fórum Grita Baixada. A dupla fez uma improvisação de rimas com as pessoas presentes na plateia assim como fazem nos vagões de trem da SuperVia.

 

 

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