29 de abril de 2020
Lançamento da publicação “Rede de Mães e Familiares da Baixada Fluminense: Resistência, Luta, Direito à Memória e à Justiça”
Texto de apresentação: Lorene Maia, articuladora de território do Fórum Grita Baixada
Na semana do dia 30 de abril, data em que é comemorado o “Dia da Baixada”, Fórum Grita Baixada orgulhosamente apresenta a publicação “REDE DE MÃES E FAMILIARES DA BAIXADA FLUMINENSE: RESISTÊNCIA, LUTA, DIREITO À MEMÓRIA E A JUSTIÇA”. Ela faz parte de uma série de debates promovida pelo Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais (CAIS), instituição que presta assessoria na área de metodologia, administração e incidência política para as organizações parceiras de MISEREOR, agência de fomento de diversos projetos sociais no Brasil, incluindo o Fórum Grita Baixada.
Intitulada “Caminhando para a cidade que queremos”, a série promove várias discussões que vão desde a proposição de legislações e outras formas de enfrentamento jurídico para efetivação dos direitos até políticas urbanas de combate a vulnerabilidades sociais. A ideia de promover a troca de aprendizagens e refletir sobre ações no meio urbano, nascida de encontros sobre os desafios enfrentados entre os parceiros de Misereor que atuam no campo do desenvolvimento e direito à cidade, chega ao FGB por meio do CAIS, com o objetivo de tornar mais visíveis experiências relevantes e concretas que, embora não sejam conhecidas pela sociedade em geral, trabalham de maneira grandiosa para a construção de uma vida digna para a população.
A história de luta e resistência de Mães e Familiares da Baixada Fluminense que tiveram seus entes vítimas da violência do Estado, foi a escolhida pelo FGB para representar, não apenas as diversas dores invisibilizadas em todo o território da Baixada. Mas também a luta de mulheres que, diante da imensidão da dor que sentem, aprenderam a se mobilizar em redes com a finalidade de apoiar umas às outras em busca de justiça, melhores condições de vida e do não apagamento da memória dos “seus”, para que outras e outros não tenham suas vidas igualmente interrompidas.
Diante de um cenário de isolamento social atípico para todos nós, em virtude de uma pandemia mundial causada pela disseminação da Covid-19, é preciso sensibilidade para não apenas promover ações de enfrentamento a essa complexa problemática, mas também para entender que os mais afetados são e serão aqueles que, invariavelmente, já são os mais atingidos pelas variadas formas de violência desse Estado: pobres, negros e moradores de periferias, submetidos a própria sorte em ambientes insalubres, sem acesso a água, esgotamento sanitário, alimentação adequada e acometidos pelas diversas formas de precarização da vida e interrupção dela, agravadas e instauradas por esse governo que tem como mote de suas ações a necropolítica. O que torna neste momento, portanto, fundamental buscar outras estratégias de enfrentamento e acompanhamento das demais lutas que permanecem sendo as maiores “doenças” a que são infringidas essas populações.
Ao final dessa publicação alguns “passos para a cidade que queremos” são apresentados, oriundos de questões centrais extraídas da atuação da Rede de Mães e Familiares da Baixada, do Fórum Grita Baixada e de tantos outros parceiros que incidem na mesma direção. Fruto dos resultados esperados da convergência dessas lutas, bem como dos desafios cotidianamente enfrentados por todos.
A cidade que quereremos, e apresentada aqui, é aquela em que sejam garantidos os direitos fundamentais de todos os seus cidadãos e que, o maior deles, o direito à vida, não mais seja relativizado e desprezado. A cidade que desejamos é aquela em que nenhuma mãe precise chorar por seu filho morto e que nenhum familiar precise lutar pela garantia de direitos e preservação da memória dos seus por conta da ação ou da omissão do Estado brasileiro.
Nós queremos uma cidade viva por sua luta, resistência, pelas bandeiras e direitos sociais defendidos pelos movimentos populares e pela afirmação da memória escrita por seu povo. Sabemos que para conquistá-la um longo caminho ainda precisa ser percorrido, mas acreditamos que fortalecer e visibilizar iniciativas inspiradoras, como essa, é um enorme passo nesse caminho conjunto de ressignificação e afirmação identitária para o presente e para o futuro.
O que elas pensam sobre a publicação?
Com a palavra a Rede de Mães e Familiares Vítimas de Violência da Baixada:
- “Acho muito importante levar a luta das várias mães para mais pessoas. Principalmente das mães de localidades esquecidas, como as do km 32. Nesse momento de fragilidade, estamos carentes de afeto, de carinho e abraços que curam a dor e nos restauram... está muito difícil”.
(Joseane Martins – Nova Iguaçu);
- “É importante para dar visibilidade à violência histórica e cotidiana na Baixada Fluminense”. (Marilza Floriano – Duque de Caxias);
- “Queremos passar a mensagem a todos que unidas pela dor, compartilhando memórias e saudades, lutamos pelos direitos que nos são tirados”.
(Luciene Silva – Nova Iguaçu)
- “Com tanta injustiça, lutar por justiça e pela memória, em meio à tanta saudade, nos mantem vivas”. (Ilsimar de Jesus – São João de Meriti);
- “A importância dessa cartilha para mim é que sinto que a morte do meu filho não vai ser mais um número ou uma estatística do IBGE. Que um pobre e preto agora não vai ter uma mãe, mas várias mães, mesmo ele não estando mais aqui em corpo presente. Ramon Felipe sempre estará presente em cada coração de uma mãe que compartilhe dessa corrente solidária. A minha dor é a dor de todas as mães que lerem a cartilha”. (Cilene Amaral – Nova Iguaçu);
“A publicação reafirma pra mim que meu irmão jamais será esquecido, vai ser lembrado e amado para sempre”. (Silvânia Azevedo – Queimados);
- “A cartilha nos traz a sabedoria para enfrentar os sofrimentos e desenvolver força e coragem. Abraçada pela determinação da Rede de Mães conseguimos ir em frente e lutar por justiça”. (Elisabete de Oliveira – São João de Meriti);
“A cartilha vai dar mais visibilidade a Rede de Mães e Familiares da Baixada, mostrando a luta das mães e familiares, a importância de nos acolhermos, de estarmos juntas e fortalecer outras mães e famílias que sofreram com as violências na Baixada”. (Elenice Esteves – Belford Roxo).