06 de agosto de 2021
Incidência política e acadêmica
Artigo que trata sobre a violência nas periferias da Baixada Fluminense é aprovado em
Congresso Interdisciplinar de Direitos Humanos – Interdh 2021.
Incidência política e científica tem como objetivo contribuir para a produção de dados e narrativas da Baixada Fluminense. Artigo foi escrito pela articuladora de territórios do FGB, Lorene Maia.
O artigo “Política e Violência Na Baixada Fluminense/RJ”, que foi apresentado no INTERDH 2021 ocorrido entre os dias 28 e 30 de julho, é fruto de levantamentos e estudos sobre política e segurança pública na Baixada Fluminense realizados em 2020 pelo Fórum Grita Baixada, ano em se sucederam as eleições locais. Ele surge a partir de observações originadas da prática em campo nas periferias dos municípios da Baixada Fluminense, bem como de leituras e análises realizadas para desvendar o ambiente e entrepostos desta região tão à margem das discussões e execuções de políticas públicas no estado do Rio de Janeiro, em especial as que se referem a segurança pública nesse território.
No trabalho, a articuladora de territórios do FGB e mestre em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas (UFRRJ), Lorene Maia, além de apresentar um breve panorama histórico da Baixada e de como a região se construiu em meio a violência, aborda também, e mais especificamente, as violências relacionadas a letalidade enquanto efeito direto das eleições regionais neste território, demonstrando que esse histórico de violência perpassa o tempo entre os grupos de extermínio, matadores civis e, mais recentemente do aparecimento das milícias e de uma nova estrutura do tráfico na região, conectadas cada vez mais diretamente com o executivo e o legislativo municipal.
O artigo fez parte do GT 7 – Sociedade e Mobilização – e até novembro integrará uma publicação do próprio evento que foi organizado pelo Conselho Internacional de Altos Estudos em Direito (CAED-Jus). Faz parte de mais uma iniciativa do FGB de incidência política e científica com o objetivo de contribuir para a produção de dados e narrativas da Baixada Fluminense.
Confira abaixo breve conversa com a autora do artigo
Você escreveu no seu artigo que "O Brasil vive uma fase do ciclo democrático, curiosamente marcada pela retração da democracia". O que essa contradição representa pra você e o que a piora dela pode acarretar nos próximos meses?
Pode parecer contraditório mesmo em pleno século 21, dentro de um país cujo regime é tido como democrático, a gente pensar no que alguns estudiosos conceituam “desdemocratização”, mas não há nada de contraditório. O Brasil é uma democracia relativamente nova e estruturalmente nada consolidada. Quando fala-se em retração da democracia, fala-se em retração e retirada de direitos, direitos esses adquiridos ainda recentes, mas que apenas nos últimos anos sofreram inúmeros desmontes. E, Infelizmente, a tendência é piorar sob um governo que além de promover esses desmontes, promove também constantes violações aos direitos humanos.
Você cita que relatos de moradores, das vítimas e das mídias locais têm a sua importância no que tange a produção de contranarrativas capazes de ressignificar este conjunto de territórios que é a Baixada Fluminense em relação a violência política e de Estado. Na sua opinião, como as narrativas não oficiais podem ganhar relevância enquanto produção de conhecimento e de dados, de modo que elas possam dividir o protagonismo com as pesquisas acadêmicas?
Eu diria que as narrativas locais são as oficiais, ou ao menos deveriam fazer parte da composição dos dados de institutos para que ilustrassem de forma mais transparente e humana a realidade. Números ditos oficiais muitas vezes não dão conta de traduzir a realidade, seja por conta da falta de interesse de jogar luz para determinada situação, seja por conta da frieza e distanciamento que acabam transmitindo. Nesse sentido, as narrativas locais ou contranarrativas nos ajudam a entender acertadamente o contexto dos territórios e até mesmo realizar de maneira mais assertiva a análise, tradução e interpretação daquilo que nos chega por meio das fontes “oficiais”
Acesse o artigo na íntegra aqui