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15 de outubro de 2021 

Artigo 

Paulo Freire – 100 anos de resistência

por Juliana Drumond,  doutoranda em História pela UFRRJ, dirigente do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (SEPE) em São João de Meriti e compõe a coordenação do Fórum Municipal de Educação.

 

Paulo Freire foi, com certeza, um dos maiores educadores de seu tempo, e continua a sê-lo no tempo atual, daí os ataques que sofre por parte daqueles que se arvoram como os bastiões do conservadorismo. Paulo Freire era um educador popular, ocupado não apenas em letrar as massas, mas em dar-lhes as ferramentas que lhes possibilitariam romper com o futuro servil que lhes queriam impor as elites a que esse conservadorismo bate continência.

 

A educação não se constrói apenas nas escolas, nem nos espaços elitizados e centrais. A educação que Freire propôs se fazia no dia-a-dia de quem constrói a vida com o suor do rosto, com as lágrimas amargas e as mãos calejadas, no campo e na cidade, mas sobretudo nos espaços marginais e periféricos. Aprender sempre foi para ele um modo de resistir e subverter, de dar aos que nada têm nada a perder – se não as correntes que lhes prendem – a chance de construir outras possibilidades. Ele sabia a importância de uma educação que dá asas, libertadora e que conduz à autonomia.

 

Paulo Freire dedicou parte significativa de sua vida e de sua obra a demonstrar que a educação é um caminho possível para a criação de pessoas capazes de mudar sua própria história e consequentemente mudar o mundo. Essa mudança se faz a partir do momento em que as pessoas podem, a partir da leitura das palavras, ler e compreender o mundo que as cerca, mas não para ter uma visão idealista do que o mundo pode ser, mas uma visão real do que ele está sendo e que não há outra revolução possível senão a popular, que nasce das periferias do Brasil e do mundo. Ele não foi um homem à frente do seu tempo, mas um homem que no seu tempo assumiu o compromisso de pensar para o futuro uma sociedade que não fosse pautada pela desigualdade e para a opressão dos que de baixo gritam pelo direito ao pão.

 

Há anos que a Baixada Fluminense vem sendo construída para ser uma terra de ninguéns. Aqui nos faltam faculdades públicas e as poucas que temos não possuem os cursos que queremos fazer, não tem medicina ou engenharia. Aqui se formam professores e no demais, apenas profissionais técnicos. Aqui não tem metrô, justamente porque quem aqui mora e aqui não trabalha não precisa chegar cedo, justamente para não sonhar que possa mais do que lhe oferta a elite do atraso. Até mesmo o Deus cristão que apresentam aqui é o da resiliência e não o da prosperidade. Não queremos caridade, podemos “esperançar” por nós e nossa solidariedade é que nos fará vencer, e superar.

 

São cem anos de uma história que descoloniza mentes até hoje, que traz para a periferia e faz gravitar ao nosso redor a luta por um mundo mais justo, com menos violência e desigualdade, com mais sonhos, daqueles que se sonha com o pé no chão. Nós queremos escolas, mas também queremos teatros, cinemas, arenas esportivas, quadras de esportes e etc. Queremos um mundo onde uma mãe preta possa deixar seu filho sair sem ter medo de que ele encontre no caminho uma bala perdida, de que sua filha seja vítima da violência, inclusive doméstica.

 

O mundo que Paulo Freire começou a construir ao educar adultos trabalhadores é o mesmo que nós estamos construindo ao trazer educação emancipadora, vestibulares populares e luta solidária para a Baixada Fluminense. Educação popular é resistência e luta por dias melhores para nós e para os nossos.