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11 de outubro de 2024. 

Artigo de opinião 

Saúde mental da população preta da Baixada Fluminense 
por Geílson Simões da Silva, psicólogo, professor e criador de conteúdo digital 

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve saúde mental como "um estado de bem-estar vivido pelo indivíduo, que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade”. Sendo assim como é possível discutir saúde mental no Brasil, em lugares periféricos, utilizando os determinantes sociais, raça e gênero?


O jornal O Dia publicou, em 18/06/2024, que o Rio de janeiro detém uma incrível de marca de 15 cidades violentas dentre as 100 cidades do Brasil. A Folha de São Paulo, em uma matéria utilizando dados do Atlas da Violência, nos elucidou que a cada 12 minutos uma pessoa negra foi morta no Brasil em um período de 11 anos. Em 2022, o site G1 afirmou, em uma matéria, que o país teve um aumento de 50% nos casos de racismo. Como é possível pensar saúde mental se pessoas negras já crescem sem uma? 


Como é possível pensar em saúde mental para a população que trabalha em escala 6 x 1 e ainda estuda para tentar garantir um futuro melhor? Em um único dia de folga, para quem trabalha e estuda nessa escala, é possível: visitar amigos? Se alimentar bem? Praticar atividade física? Organizar a casa? Estudar para provas? Dar atenção a família? Promover o autocuidado? Ir a praia?


Na Baixada Fluminense, dentro dos 13 municípios que compõem a região, pelo menos 8 são considerados os mais violentos. Segundo o portal de notícias R7, das 10 delegacias mais violentas do Rio de Janeiro, sete estão na Baixada Fluminense. 


Falar de saúde mental para população da Baixada, preta e periférica, é quase uma utopia, pois, visivelmente, através dos dados levantados, estamos falando da  omissão do Estado. A falta de investimento em Educação de qualidade, Saúde e Lazer reforçam estigmas colocados na população nesse conjunto de territórios como um lugar “não desenvolvido”. 


Como morador da Baixada, preto e de periferia, eu pergunto a vocês. Onde encontro essa “tal saúde mental”? Saúde mental é um conjunto de comportamentos, sejam eles individuais e coletivos, no qual, em equilibro com a saúde física e social, completam-se.


Logo, ressalto que pretos(as) não apenas na Baixada Fluminense, mas como no Brasil não têm acesso à saúde mental. Somos massacrados, julgados em estabelecimentos, nos quais seguranças andam nos vigiando, sempre com julgamento pela cor da pele. Somos impedidos de acessar lugares, somos hiperssexualizados, somos questionados, em uma blitz, se o carro que estamos dirigindo é nosso. Onde somos confundidos com funcionários de um restaurante e nunca com os consumidores do estabelecimento. 


Como é possível pensar saúde mental pra nós? Sem falar da estrutura social e  econômica? Pergunto enquanto preto, morador da Baixada Fluminense, homossexual, e de religião de matriz africana, como é possível desenvolver saúde mental de qualidade na qual interfere na minha autoestima?